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Boletim do GPI nº4 - set. 2015

Boletim do GPI
Nº 4 - setembro de 2015
Periodicidade trimestral


Conteúdos

Nota editorial

    O que é a Língua Gestual Portuguesa ? LGP
    Notas históricas sobre as tecnologias de apoio à surdez
    Iniciativas de destaque
    Um testemunho na 1ª pessoa
    Sugestão do trimestre



Nota editorial
Mais um ano letivo que começa pelo que, antes de mais, damos as boas vindas a todos, colocando-nos ao inteiro dispor daqueles que precisarem do nosso apoio. Reiteramos que as medidas de apoio ao estudante com deficiência estão definidas na subsecção VII do Regulamento Académico da Universidade do Minho.
Entretanto, o GPI, além dos apoios que disponibiliza, tem também como missão a divulgação, a formação, a desmistificação da deficiência. Assim, propomo-nos neste boletim dar maior visibilidade à deficiência auditiva, quantas vezes mal detetada e interpretada pelo desconhecimento em torno do tema. Esperamos, pois, contribuir para lançar alguma luz sobre este assunto.

Contactos
Gabinete para a Inclusão (GPI)
Universidade do Minho
Campus de Gualtar, Complexo Pedagógico I
4710-057 Braga
Telefones: 253 601335/6
E-mail: secretaria@gpi.uminho.pt
Web: www.gpi.uminho.pt
 
 O que é a Língua Gestual Portuguesa - LGP  

A Língua Gestual Portuguesa (LGP) é a língua através da qual grande parte da comunidade surda, em Portugal, comunica entre si. É processada através de gestos sistematizados, como os movimentos das mãos, do corpo e por expressões faciais, e a sua captação é visual. É usada pela comunidade surda e também por toda a comunidade envolvente, como familiares de surdos, educadores, professores, técnicos, entre outros.
A expressão "língua gestual", ao contrário de "linguagem gestual", refere-se à língua materna de uma comunidade de surdos. As línguas gestuais são línguas naturais, que surgem e se desenvolvem naturalmente, como as línguas orais. A LGP, como todas as Línguas, tem gramática própria e um dicionário próprio, denominado Gestuário, em que os significados aparecem sob a forma de gestos. Pelo facto de ter gramática e dicionário (neste caso um Gestuário), a forma de comunicar dos surdos portugueses chama-se Língua Gestual Portuguesa.
Há quem acredite que a língua gestual é universal, mas essa ideia não é correta. Assim como as línguas orais, as línguas gestuais desenvolveram-se naturalmente, e assim sendo, cada comunidade possui a sua.
A primeira escola de surdos no mundo foi criada em Paris no século XVII, sendo a Langue des Signes Française (LSF) tida como a língua gestual mais antiga. Esta língua, através da dispersão dos seus professores surdos, expandiu-se para os EUA, Brasil, entre outros, com o propósito de também ali criar escolas para surdos.
Em Portugal, a LGP nasceu na primeira escola de surdos, existente na Casa Pia de Lisboa, em 1823, tendo tido como primeiro educador um sueco que trouxe o alfabeto manual.
Este alfabeto manual (ou alfabeto gestual, ou dactilologia) apenas é utilizado quando existe a necessidade de dizer o nome próprio de alguém, o nome de uma localidade ou uma palavra que não se conhece, pois, regra geral, na comunicação, os surdos não sentem grande necessidade de recorrer ao alfabeto manual, uma vez que os conceitos têm todos gestos correspondentes.
Apesar de a pesquisa acerca da Língua Gestual Portuguesa ter começado no final da década de 70, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, esta só foi reconhecida pela Constituição da República, como língua oficial da comunidade surda, em 1997.
    
     Alfabeto LGP emissor               Alfabeto LGP recetor








 
Notas históricas sobre as tecnologias de apoio à surdez

Até ao século XVI, e durante muito tempo, as pessoas com perda auditiva foram continuadamente discriminadas.
O monge beneditino Pedro Ponce de León pode ser considerado o primeiro professor para surdos. Cerca do ano de 1530, criou uma escola para surdos no Mosteiro de San Salvador em Oña Burgos. Nessa escola ensinou os filhos surdos do nobre Juan Fernández de Velasco y Tovar a ler, escrever, fazer cálculos e comunicar.
No século XVII, surgiram os primeiros aparelhos auditivos, normalmente em forma de uma corneta, de diversos formatos e tamanhos. Eram feitos de ferro, prata, madeira, conchas ou cornos de animais. Embora rudimentares, estes aparelhos eram os únicos amplificadores de som.
No século XVIII, Alexander Bell, o inventor do telefone, pretendia transformar as palavras faladas em sinais elétricos, para serem vistos pelas pessoas surdas, pois quer a esposa de Bell quer a sua mãe eram surdas. Apesar da sua ideia para facilitar a comunicação com as pessoas com surdez nunca ter passado disso mesmo, existem inúmeros aparelhos que emitem luz ou vibração em vez de som, como por exemplo campainhas e despertadores.  
Com a invenção do transístor, no século XX surgiram os aparelhos auditivos com melhor amplificação e de tamanho reduzido. Nos anos 60 desenvolveu-se o modelo retro auricular, que atualmente é dos mais utilizados, pois desde a sua criação e graças à evolução da microeletrónica e à sua miniaturização, estes permitem cada vez mais uma melhor audição, quer pela qualidade de amplificação quer pelo recurso a processadores digitais de sinal que permitem a adequação a vários tipos de ambientes, uma melhor filtragem e atenuação de ruídos. Os aparelhos auditivos atuais, podem ser utilizados com inúmeros dispositivos, tais como microfones externos, telemóveis, televisores, equipamentos HI-FI etc., graças à tecnologia de conexão sem fios.
Em algumas salas de espetáculo e auditórios, existem os chamados anéis magnéticos, que emitem sinais que são captados pelos aparelhos auditivos, permitindo aos utilizadores destes equipamentos uma boa audição de espetáculos e eventos.     
Os dispositivos eletrónicos tais como computadores, tablets e smartphones, são equipamentos facilitadores da comunicação de pessoas surdas ou com perdas auditivas, quer pela utilização de mensagens de texto, pela conversão de texto em fala, videochamadas que permitem o uso da Língua Gestual Portuguesa - LGP, e até como amplificadores de som.
Em pessoas com perda auditiva bilateral, severa a profunda, para quem os aparelhos auditivos não são solução, pode ser colocado um implante coclear, que é um dispositivo implantado na cabeça por meio de cirurgia e que estimula diretamente o nervo auditivo. Este recebe os sinais sonoros enviados por um aparelho colocado na parte posterior da orelha, que capta os sons, e envia-os ao dispositivo implantado. No entanto, este recurso não é ponderado por muitos surdos, em grande parte por considerarem que existe uma identidade surda que pretendem manter. A questão é polémica e tem suscitado muito debate.

Iniciativas de destaque

Durante este trimestre, temos uma iniciativa e uma colaboração a destacar:

    Como iniciativa, estamos a aguardar a cedência de um espaço no Campus de Azurém, no qual um membro da equipa do GPI possa estar mais acessível aos que precisarem de recorrer ao nosso serviço. Oportunamente, daremos maiores informações sobre este assunto.

    A Administração da UMinho recorreu ao GPI para a consultoria no âmbito da sinalética a colocar nos Campi, de forma a torna-la mais acessível.

Um testemunho na 1ª pessoa

Chamo-me Filipe Venade de Sousa. Nasci com surdez profunda bilateral, mas vejo esta condição como natural e fazendo parte da minha identidade. Utilizo a Língua Gestual Portuguesa, enquanto língua materna, como base da minha acessibilidade e da dignidade para o meu dia-a-dia.
No que respeita ao meu percurso académico, atualmente frequento o Doutoramento em Direito, na nossa Universidade, já tendo frequentado, também na UMinho, o mestrado na mesma área.
De acordo com a minha experiência nesta Universidade, posso dizer que o sucesso académico só é possível com base dos meus esforços para atingir as metas, especialmente graças ao apoio do Gabinete para a Inclusão - GPI, que é um ponto fundamental para uma melhor adaptação dos estudantes universitários com deficiência, quando vivem a sua primeira experiência no ambiente universitário, tal como foi o meu caso, porque tenho tido os apoios necessários para o percurso académico, através de um intérprete de LGP, sob tutela do GPI, caso contrário não seria possível atingir, facilmente, os meus objetivos. Estes apoios técnicos são ? repito ? complementares aos esforços quotidianos de estudantes universitários com deficiência em geral.
Todas as pessoas com deficiência são estudantes como quaisquer outros. Apenas se distinguem com as suas particularidades inerentes à sua condição, refletidas através da necessidade dos complementos de apoios técnico para minimizar as diversas barreiras, sendo no meu caso à barreira comunicativa. A própria Universidade tem bons meios para minimizar tais barreiras, designadamente, por exemplo, o portal da Secretaria Eletrónica, que é acessível a qualquer estudante, incluindo as pessoas com deficiência, sem necessitar de deslocação física. Assim, enquanto estudante surdo, é-me facilitada a resolução dos meus assuntos, através deste portal, dispensando as dificuldades comunicativas. Logo, sou um estudante como outros que têm ao seu alcance uma ferramenta para obter o êxito académico, neste momento, para a conclusão do doutoramento em Direito.
Os apoios técnicos e a sensibilidade, a inclusão e abertura dialógica no seio da nossa Universidade, são chaves para o sucesso de plena inclusão para todos e não para alguns. Para concluir, gostaria de recordar a frase latina: ?ad augusta per angusta?, traduzindo que não se vence na vida sem lutas para atingir a meta que é o nosso sucesso.

Filipe Venade

Sugestão do trimestre


No passado dia 18, aconteceu na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva o lançamento de um romance ficcional, ?Retalhos de Uma Jornada?, da autoria da técnica superior do GPI, Sandra Estêvão Rodrigues, com a chancela da Chiado Editora. Este livro retrata, entre outros temas, a deficiência e a doença mental, procurando distingui-las e demonstrar os desafios que implicam. Assim, desculpando-nos pela publicidade, deixamos este livro como sugestão de leitura a quem tenha curiosidade sobre os temas abordados. Para completar esta sugestão, segue-se a sinopse:
Numa praia ao Sul de Portugal, um casal de jovens apaixonados enfrenta os desafios do chamamento para a guerra do Ultramar, o nascimento de um filho saudável que, por dois acontecimentos (um de doença e outro fruto de descuido), começa a apresentar perturbações no seu desenvolvimento, o regresso da guerra com as suas sequelas e toda uma mudança de vida.
Vidas que se cruzam, que escondem segredos, vidas que tomam rumos muito diferentes, que partilham, que se perdem e se reencontram. Ingredientes que não deixarão o leitor indiferente aos retalhos desta jornada.
 
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